Mãos de Saramago – Trabalho e afeto em Memorial do Convento
Este ensaio é uma interpretação visual livre do romance Memorial do Convento que, para mim, é emblemático da obra de José Saramago. Tem como inspiração fundamental a fala do compositor Domenico Scarlatti para o padre Bartolomeu de Gusmão, a propósito da “basílica que estava a ser construída na Vila de Mafra”:
“Como se mostram variadas as obras das mãos do homem, são de som as minhas, Fala das mãos, Falo das obras, tão cedo nascem logo morrem, Fala das obras, Falo das mãos, que seria delas se lhes faltasse a memória e o papel em que as escrevo. Fala das mãos, falo das obras.”
Inspirado na reverência e no respeito com que o autor se refere aos trabalhadores e trabalhadoras, personagens desta e de suas outras obras, este ensaio faz uma homenagem ao autor, no ano em que completaria cem anos, por meio de mãos de trabalho e de afeto que, em Memorial do Convento, pertencem a “... Josés, e Franciscos, e Manuéis...” e a tantos outros e tantas outras mais.
As fotografias mostram mãos de trabalhadoras e trabalhadores de Belo Horizonte, minha cidade natal, trabalhando em seu ambiente natural, com iluminação própria do local, sem encenação. A paleta de cores é a que eu enxergo em Memorial do Convento.
As duplas, cada uma formada com as mãos de uma mulher e de um homem, remetem aos personagens principais de Memorial do Convento, o casal Blimunda e Baltasar Sete-Sóis, amantes e companheiros na labuta da sobrevivência e no sonho de voar.
Aqui, as mãos das trabalhadoras e dos trabalhadores de Saramago ecoam suas vozes, ouvidas no final do discurso do escritor em agradecimento ao Prêmio Nobel em 1998:
“Termino. A voz que leu estas páginas quis ser o eco das vozes conjuntas das minhas personagens. Não tenho, a bem dizer, mais voz que a voz que elas tiverem. Perdoai-me se vos pareceu pouco isto que para mim é tudo.”
Mãos de Neide Costa - costureira
Mãos de Amarildo Maciel - sapateiro
Mãos de Graciela Carvalho - crocheteira
Mãos de Nilson de Sousa - serralheiro
Mãos de Rosimaire Oliveira - cozinheira
Mãos de José de Sousa - pedreiro
Mãos de Marilene Matos - florista
Mãos de Walison Cardoso - borracheiro
Mãos de Areti Thomopoulos - artesã
